As minhocas utilizadas na minhocultura e na compostagem são animais do filo Annelida (anelídeos), da subclasse Oligochaeta e da ordem Haplotaxida. São animais com o corpo segmentado interna e externamente em diversos anéis (origem do nome Annelida). Em uma das extremidades do corpo da minhoca há a boca e na outra, o ânus.
As minhocas são bioindicadoras da qualidade do solo pois são fundamentais para a areação e fertilidade do solo.
Elas são muito utilizadas no processo de compostagem pois se alimentam do resíduo orgânico transformando-o em um adubo cheio de nutrientes, conhecido como húmus. A utilização de minhocas na compostagem acelera o processo de decomposição e transformação do lixo orgânico em adubo.
Tipos de minhoca
Há cerca de 4.500 espécies de minhocas descritas, ocorrendo no mundo todo. Elas vivem na água ou enterradas no solo úmido. Seus tamanhos podem variar de apenas alguns centímetros a alguns metros.
No Brasil são conhecidas cerca de 300 espécies de minhocas sendo que dessas, cerca de 40 são exóticas (originais de outros países). Aqui focaremos apenas nas minhocas de relevância nacional ou para a compostagem.
Pontoscolex corethrurus (minhoca mansa)
Essa é provavelmente a minhoca nativa mais abundante e comum no Brasil. Contudo, em algumas regiões do país ela é considerada exótica pois é originária do Platô das Guianas e não era encontrada em algumas regiões do país antes do ser humano a levar para fins agrícolas.
Essa é uma espécie de alta adaptabilidade a diferentes tipos de solo e clima. Assim, ela é exportada para outros países tropicais para fins agrícolas. Essa espécie habita os mais variados tipos de solo, geralmente ocupando a camada mais superior do solo (até 30 centímetros de profundidade).
Rhinodrilus alatus (minhocuçu)
Também conhecida como minhocuçu-do-cerrado, essa é uma das maiores espécies brasileiras de minhocas, atingindo até cerca de 60 centímetros. Essa é uma espécie endêmica do cerrado central do estado de Minas Gerais.
Seu nome científico Rhinodrilus alatus, faz referência a porção anterior do corpo da minhoca que apresenta um focinho (Rhinodrilus) e às expansões laterais do clitelo do animal, que lembram um par de asas (alatus).
Lumbricus terrestris (minhoca da terra)
A minhoca-da-terra é originária da Europa mas atualmente ocorre no mundo todo sendo considerada praga e invasora em diversos países. Essa espécie é conhecida também pela capacidade de escavar o concreto, trazendo prejuízos econômicos e podendo causar possíveis estragos em barragens.
Essa espécie é muito utilizada na agricultura pela sua capacidade de construir galerias subterrâneas mais profundas (até dois metros e meio de profundidade). Assim, essas minhocas aeram o solo e facilitam a infiltração de água assim como disponibilizam mais nutrientes para o plantio.
Eisenia fetida e Eisenia andrei (minhocas californianas)
O nome “minhoca californiana” é mais comumente associado a espécie Eisenia fetida. Contudo, você também poderá encontrar essa associação relacionada a espécie E. andrei.
Isso supostamente ocorre pois muito se debate sobre a validade de se separar essas duas minhocas em duas espécies cientificamente válidas. Ambas já foram consideradas variações ou subespécies de uma mesma espécie. Contudo, atualmente essas duas minhocas são consideradas duas espécies distintas e cientificamente válidas.
Apesar de morfologicamente e fisiologicamente muito semelhantes e comumente confundidas, as minhocas da espécie E. andrei apresentam coloração mais escura e a coloração das listras dos anéis menos acentuada que a das minhocas da espécie E. fetida.
Ambas as espécies são muito utilizadas em experimentos laboratoriais e na minhocultura. Na compostagem, em especial, elas são utilizadas por serem mais resistentes a variações ambientais que outras espécies.
Eudrilus eugeniae (gigante africana)
Originalmente da África, essa espécie é atualmente encontrada em diversos países ao redor do mundo. São muito utilizadas como isca viva de peixe, para a produção de proteína na alimentação animal e no processo de compostagem.
Apesar de apresentarem uma reprodução mais rápida, são mais sensíveis a manipulação e a variações ambientais que as minhocas californianas.
Amynthas gracilis (minhoca puladeira)
Também conhecida como minhoca louca ou bailarina, A. gracilis é uma espécie original do sudeste asiático e exótica e invasora em diversos países tropicais. É uma espécie comum em áreas agrícolas de regiões úmidas e frescas do sul e sudeste do Brasil.
O que as minhocas comem?
O sistema digestório das minhocas é bastante simples. Conta com uma boca, algumas especializações para a ingestão do alimento na porção anterior do corpo do animal e um tubo digestivo com poucas especializações se encerrando em um ânus.
As minhocas são animais detritívoros se alimentando principalmente de restos vegetais presentes no solo. Todo quanto é tipo de resto vegetal que estiver se decompondo no solo pode acabar virando alimento de minhoca.
Ao se locomoverem, elas evertem um órgão chamado bulbo faríngeo que recolhe tanto o material orgânico quanto o solo da região. Assim, ao se alimentar, as minhocas ingerem uma grande quantidade de solo junto com o alimento.
Esse material é então transformado ao passar pelo sistema digestório da minhoca, onde parte é absorvido para a manutenção das atividades vitais e reprodução do animal enquanto o restante é liberado nas fezes.
Uma característica interessantes desse animais é possuírem glândulas calcíferas nas paredes do esôfago, isso faz com que todo alimento que passe por seu trato digestivo saia de maneira estabilizada. Dessa maneira elas conseguem contribuir com a regulação do Ph no ambiente em que vivem, por conta disso elas são fundamentais para a agricultura e manutenção de um solo vivo e saudável.
Assim, as fezes das minhocas são basicamente solo misturado com material orgânico transformado. Essas fezes, mais conhecidas como húmus de minhoca, são um excelente adubo natural, cheio de nutrientes e muito utilizado na agricultura e jardinagem.
As minhocas possuem uma alimentação voraz e cada minhoca pode produzir até cerca do seu peso em húmus por dia. A quantidade de húmus produzido pela minhoca está diretamente relacionada ao clima. Em temperaturas mais frias as minhocas se alimentam menos, ao passo que em temperaturas mais elevadas elas se alimentam mais.
Como as minhocas se reproduzem?
As minhocas são hermafroditas (possuem tanto o sistema reprodutor feminino quanto o masculino) mas não se autofecundam, ou seja, é necessário que duas minhocas se encontrem para que haja a reprodução.
As minhocas adultas são facilmente reconhecidas pela presença do clitelo, uma estrutura glandular da epiderme das minhocas responsável pela produção de casulos.
Apesar da reprodução das diferentes espécies de minhocas serem bastante similar, podemos encontrar detalhes que variam de acordo com a espécie em questão.
Aqui, usaremos a reprodução da minhoca californiana (Eisenia fetida) como exemplo por ser uma espécie de alta importância na compostagem e por ser muito estudada.
Para se reproduzirem, é necessário que duas minhocas se encontrem e ocorra a fecundação cruzada. Assim, ao mesmo tempo, uma minhoca doa e recebe espermatozoides de uma outra minhoca.
Após o cruzamento, a minhoca secreta na região do clitelo, uma série de compostos que protegerão e nutrirão os embriões. Cerca de quatro dias após o cruzamento, o casulo formado na região do clitelo é liberado no ambiente contendo entre 3 e 20 ovos dentro.
Os embriões vão crescendo e se alimentando da albumina secretada pela minhoca progenitora dentro do casulo. O desenvolvimento das minhocas é direto, ou seja, não há fase larval e as minhocas eclodem do casulo com o corpo muito semelhante ao dos adultos, porém em versão miniatura.
Após cerca de três semanas, as minhocas eclodem do casulo para seguir seu crescimento. A partir desse momento, elas se tornam detritívoras e passam a se alimentar de restos vegetais presentes no solo. Após a eclosão, as minhocas levam entre 40-60 dias para se tornarem adultas e aptas a reprodução.
Em média, em um mês as minhocas dobram o tamanho populacional e em um ano, cada minhoca pode deixar de 100 a 140 descendentes.
Como criar minhocas?
O jeito mais prático de se criar minhocas em uma cidade é utilizando uma composteira doméstica. Com a composteira, além de você permitir com que as minhocas tenham um ambiente favorável a reprodução, você também produzirá seu próprio adubo orgânico de forma simples, sustentável e livre de qualquer odor.
Uma composteira geralmente consiste de três caixas empilháveis sendo duas caixas digestoras e uma caixa coletora. Em ambas as caixas digestoras, você acrescentará uma camada fina de terra e na caixa digestora superior você acrescentará também sua matriz de minhocas, ou seja, suas primeiras minhocas progenitoras.
Caso adquirir essa primeira matriz de minhocas seja difícil na sua região, uma outra opção é misturar o húmus de minhoca ao solo. Esse húmus, geralmente vem com casulos ou ovos de minhocas que eclodirão e darão origem as suas primeiras minhocas.
São nas caixas digestoras (superiores) que o lixo orgânico será colocado e transformado em adubo natural com o auxílio das minhocas. Acrescente o lixo orgânico aos poucos (primeiramente apenas na caixa que contem as minhocas), sempre intercalando com uma camada de material orgânico seco (folhas secas trituras ou serragem).
Pronto. Dessa forma você garante o ambiente, parceiros sexuais e alimento para suas minhocas. Agora você precisa apenas continuar alimentando-as, garantir que a saúde da sua composteira esteja em dia e esperar que suas minhocas cresçam, se reproduzam e gerem novos descendentes.
Aqui na Casológica, você encontra nossas composteiras nos tamanhos P, M e G. O tamanho da sua composteira Casológica vai depender da quantidade de pessoas que moram na sua casa e do tipo de alimentação da sua família.
Na Casológica você também tem a opção de comprar, junto com sua composteira, as minhocas, serragem e todo o material necessário para iniciar sua compostagem doméstica assim que o produto chegar na sua residência.
Importância da minhoca para o solo
As minhocas são animais de extrema importância ecológica e econômica. Esses animais são fundamentais para o equilíbrio do ecossistema e para uma agricultura de melhor qualidade.
Ao se locomoverem, as minhocas criam galerias no solo que são verdadeiros corredores para uma série de substâncias. Essas galerias facilitam o transporte de água pelo solo além de facilitar a entrada e saída de gases no solo.
Além disso, ao se alimentarem e liberarem húmus, as minhocas aumentam a carga de matéria orgânica do solo. Assim, as minhocas ajudam a manter o equilíbrio do ecossistema que elas habitam.
Por apresentarem essas características, as minhocas também são importantes para aumentar a fertilidade do solo em plantios. Com a maior disponibilidade de matéria orgânica e nutrientes no solo e pelo aumento da porosidade do solo pela produção de galerias, as minhocas são grandes aliadas dos agricultores.
Como mencionado anteriormente, as minhocas são também importantíssimas para a ciclagem de nutrientes no processo de compostagem que ocorre naturalmente nos solos. As bactérias presentes no sistema digestivo das minhocas digerem a celulose dos resíduos orgânicos.
A celulose é um composto encontrado nas células vegetais e não é facilmente digerido por outros animais. Assim, o húmus de minhoca é uma importante fonte de micro e macronutrientes para os solos.
Ainda, as minhocas são fundamentais para a recuperação do solo em áreas degradadas. Seja por ação do fogo (natural ou de origem humana) ou por atividades que perturbam o solo (como por exemplo, a mineração), as minhocas são fundamentais para que o solo da região degradada recupere suas características físico-químicas e biológicas.